Todo mundo morre sozinho
Não importa o que aconteça, todo mundo morre sozinho. Noite passada acordei no meio da noite com um grito horrível. Levantei assustada e fui olhar se os gatos estavam bem, depois não consegui mais dormir.
A primeira insônia do ano, no primeiro dia do ano. Junto com o grito, um pensamento obsessivo sobre a morte ficou impregnado em mim. Todo mundo morre só. E comigo não será diferente. Eu deveria estar acostumada à ideia, afinal escuto isso desde sempre, mas é algo que ainda me assusta. Não a morte, mas a solidão.
Meu coração-bastidor tantas vezes remendado, tem medo de não dar conta e enlouquecer de vez ou de se afogar nas lágrimas que não param de jorrar e que eu não consigo entender, muito menos controlar. Sometimes breathing, sometimes drowning. Agora, estou me afogando real. Quero voltar a superfície e tentar me adaptar, ouvir de mim mesma que vai ficar tudo bem, que a dor de cabeça vai passar, que o grito horrível que me acordou foi só um sonho, que eu não estou sozinha, que o bordado do meu coração-bastidor não vai se romper… mas não consigo respirar.
Estou cansada de lutar. Estou cansada de ser forte, carrego nas minhas costas o cansaço de gerações de mulheres incompreendidas. Tenho vontade de me machucar pra ver se a dor física supera a dor da alma. Da minha redoma de vidro eu me vejo só e um pensamento me persegue: todo mundo morre sozinho. Mesmo quando cercado de gente, a morte é uma experiência solitária. Talvez seja por isso que temos medo de morrer.

Então, não sei porquê, me lembrei da Rosa do Pequeno Príncipe. Ele a amava, mas (para ele) a demanda emocional dela era tão insuportável que ele a deixou para conhecer outros mundos. <o coração é um caçador solitário>
Aí eu imagino que a Rosa sentiu um alívio imenso quando ele foi embora porque é melhor não ser amada do que ser amada em termos. Imagino que ela aprendeu a se proteger dos ventos, do sol, aprendeu a se regar e cresceu, se tornou forte e a solidão não era mais um problema; o medo de morrer sozinha desapareceu porque ela aceitou que esse é o destino de tudo o que está vivo.