A difícil arte de receber elogios
Toda mulher já ouviu que era insuficiente e isso causou uma marca tão profunda que é muito difícil acreditar quando alguém diz o contrário.
Eu nunca gostei de receber elogios. Eu sentia que não merecia, tinha muita insegurança e síndrome de impostora envolvida. Principalmente, no ambiente acadêmico, eu sentia que havia muitos “falsos elogios”. Sabe a pessoa que te dá um beijo no rosto e te apunhala pelas costas? Pois é. Mentiras sinceras não me interessam.
Eu nunca gostei de receber elogios porque fui ensinada que não era boa o bastante. Consequentemente, nunca gostei das coisas que fazia. Era extremamente preciosista. Me boicotava o tempo todo.
Quando minha tese de doutorado ganhou três prêmios, incluindo o Prêmio de Teses da Capes, juro que meu primeiro pensamento foi “deve haver algum engano”, e não, não é falsa modéstia.
Atelofobia é o nome que dão ao medo de não ser perfeita. Por muito tempo, sofri disso, até descobrir que perfeição é uma régua que pode variar.
Percebi que o medo de soar arrogante ou metida ao aceitar e agradecer a um elogio, tem a ver também com a estrutura patriarcal da sociedade que colocou as mulheres em um lugar de modéstia e passividade.
Dói perceber que nos ensinam coisas pra nos aprisionar. Como um burro que desde pequeno é amarrado num poste com um nó falso. Destrói nossa autoestima.
Eu tendia a diminuir os elogios que recebia. “ah, não foi nada”, “foi sorte”, “não é inteligência, é só esforço”.
Demorei a dar valor às coisas que eu produzia e a reconhecê-las como boas. Demorei para agradecer um elogio sem precisar me diminuir, mas fico feliz que consegui e, mais ainda, quando elogio outras mulheres e elas recebem o elogio sem medo.
Afinal, somos mulheres inteligentes e elogios sinceros nos interessam.
